Aviação Executiva Esperançosa Mesmo com Queda de Números na LABACE
Organizadores da LABACE de 2016 em São Paulo apresentaram algumas estatísticas precisas sobre a atual situação da indústria da aviação executiva do Brasil.
A exposição estática para a LABACE 2016 estava ganhando corpo na segunda, com um número reduzido de aeronaves aguardado para esse ano. (Photo: Ian Sheppard)

Os organizadores da 13ª LABACE, que começa no dia 30 de agosto em São Paulo, ficaram de cabeça erguida diante dos ventos econômicos adversos que afrontam a economia brasileira durante o seu coletivo de imprensa na semana passada.


“Quando um avião está em mergulho, você primeiro tenta estabilizá-lo, e só então você tenta subir,” Ricardo Nogueira, diretor geral da ABAG disse à AIN. O grupo insiste que o declínio recente agora atingiu o fundo do poço.


Repórteres foram apresentados com estatísticas desanimadoras sobre a atual situação da frota brasileira de aviação executiva e com indicações de que a LABACE sofrerá uma redução ainda mais profunda em participação do setor industrial.


O número de aeronaves esperado esse ano é de 43, uma queda das anteriores de 70 em 2012 e 50 no ano passado. As áreas que compõe o pavilhão de exibições e a e exposição estática representarão 130 “marcas”, uma queda das cerca de 190 em 2014, e esse número reflete mais de uma marca por expositor.


O número de visitantes esperados para o evento de 2016 é o mesmo daquele do ano passado, um valor que beira 10 mil, o que está muito abaixo do pico de 16 mil em 2012. No entanto, isso reflete uma estratégia consciente de excluir visitantes que não são profissionais do mercado ou compradores qualificados. Isso incluiu mudar as datas do evento (do dia 30 de agosto ao dia 1° de setembro) para dias úteis somente, cortando as entradas grátis para estudantes de aviação, e aumentando significativamente o preço dos ingressos.


O recentemente eleito presidente da ABAG Leonardo Fiuza recorreu aos seus anos de experiência na TAM Aviação Executiva, na qual foi promovido de diretor de vendas a presidente no começo deste ano, para construir um retrato do cenário do mercado similar àquele feito por Nogueira. “As vendas em 2015 representa uma queda de 40% em relação a 2014. Mas se esse ano acabasse amanhã, eu diria que estamos parecidos com 2015,” ele comentou. “Mas, desde julho, espírito tem retornado ao mercado. Se o país ficar tranquilo até o final do ano, eu vejo o cliente retornando ao mercado.”


Fiuza traçou uma comparação entre o mercado da aviação executiva nesta recessão com sua performance em crises passadas, globais e locais. “Nossos negócios estão totalmente ligados com nossa economia. 2008 foi global, mas esta crise é nossa,” ele refletiu. Ele descreveu o roteiro típico como sendo um enfraquecimento da economia local e da moeda, e então, “Com as mudanças no câmbio, clientes vendem suas aeronaves fora do país, e conseguem mais reais. É uma medida tomada junto com outras medidas de corte de gastos, trazendo reais ao balancete em um momento delicado.”


Mas o novo líder da ABAG permaneceu otimista. “Uma coisa não muda, o tamanho do país e a necessidade de viajar por ele. Quando a crise passar, o cliente volta, e compra mais aeronaves, porque ele precisa da mobilidade para fazer negócios,” ele concluiu.


O antigo presidente da ABAG Francisco Lyra relatou coisas parecidas à AIN, mas em termos numéricos. “A aviação comercial tem um crescimento 2.2 vezes maior do que o do PIB,” ele explicou. “Se a economia cresce 2%, a aviação cresce mais que 4%. O multiplicador da aviação executiva é 3 ou 4 vezes o crescimento do PIB. Nós tivemos dois anos de queda de PIB. Se nós atingirmos um crescimento de 2%, nós teremos um crescimento de 6 ou 8% na aviação executiva.”


Lyra disse que o potencial do mercado geral da aviação brasileira pode ser percebido ao observar os números de viagens de avião comparados com a população. O Brasil tem 0.5 viagens ao ano por habitante, enquanto os EUA têm três viagens por habitante. “E em países aonde as distâncias são grandes, como o Canadá ou a Austrália, o multiplicador é 3.4 ou mais. A aviação brasileira tem espaço para crescer. Uma coisa é translúcida e certa: quando a economia melhorar, a aviação vai crescer,” ele insistiu, sem explicar como isso se traduz para um crescimento da aviação executiva.


Dados preliminares apresentados pela ABAG mostraram que a frota da aviação executiva brasileira cresceu em números absolutos em 2015, mas minguou em valores. Aeronaves mais novas e caras foram vendidas no exterior, e enquanto a frota movida a motores a pistão cresceu, ela só tem metade do valor da frota de jatos, que diminuiu de 824 jatos para 802 jatos no final de 2015. A frota de aviação geral do Brasil é a segunda maior do mundo, com 15.290 aeronaves, e está muito à frente da terceira colocada, porém a frota de jatos caiu para abaixo daquela do México.


O maior aumento foi o da classe “experimental” com 5.585 aeronaves representando 25,8% da frota total de 21.614 aeronaves do país. Alguns acidentes extremamente visíveis têm atraído a atenção para as aeronaves experimentais do Brasil no último ano. Na sexta feira, a ABAG estava correndo contra o relógio para conseguir todas as permissões necessárias para a vinda de uma aeronave experimental a Congonhas para a LABACE, incluindo uma licença especial para sobrevoar uma área urbana.


Outros dados oficiais revelados na coletiva mostraram uma antiga e excessivamente utópica visão da infraestrutura de aviação brasileira. Um gráfico mostrou 509 bases de manutenção oficialmente ativas em várias partes do país em 2015, “mas cerca de metade delas fechou suas portas,” disse Nogueira, observando que das 151 companhias de táxi aéreas exibidas no slide seguinte “muitas fecharam em 2015 ou na primeira metade de 2016.”


A LABACE de 2014 foi marcada pela morte de Eduardo Campos, então concorrente à presidência, em um acidente aéreo. Em 2016, com a abertura do julgamento da presidente Dilma Rousseff na última quinta-feira (25), o apogeu do mesmo poderá coincidir com a LABACE.


Confiança empresarial, medida por fatores como o aumento do valor da moeda, tem crescido enquanto a sorte de Dilma tem caído. Se ela for removida do cargo, o vice-presidente Michel Temer será confirmado como o líder do país. Como presidente interino enquanto Dilma aguarda julgamento, ele moveu a aviação civil de um assento de gabinete separado, para parte do portfólio de transportes. Dilma tinha anunciado planos para 300 aeroportos regionais, mas o projeto não caminhava, e essa semana Temer reduziu esses planos para um número mais manejável de 53.


Nogueira observou que a “dança de cadeiras” do governo criou dificuldade para a ABAG, dizendo que recentemente tinha gasto horas explicando o tamanho e importância da frota de aviação geral a oficiais recém-nomeados que tinham contemplado a aviação comercial como o todo da aviação, ao invés do pico da pirâmide.


Fiuza disse que sua ambição como presidente da ABAG é “estar mais próximo dos membros, e mais próximo das autoridades, ter todos na mesa juntos, discutindo conceitos básicos, conceitos originais, promovendo a aviação no Brasil.”